as terças dos poemas, a música do mundo, ou sem preconceitos?
Porque gostava eu de Amália Rodrigues e dos Faduchos dela?
É simples, eu gostava imenso das letras das músicas que esta cantava.
É claro que num reportório tão grande existem muitas musiquitas que eu chamo carinhosamente, “lixinho”.
Uma das músicas que eu não me fartava de ouvir, chamava-se Barco Negro, e ouvia ás escondidas, porque eu era muito, mas muito macho e não ia nessas coisas do fado, eu era um Rocker.
Só mais tarde percebi o porquê, quando já grandinho não ouvia fados ás escondidos.
O facto é este, foi ela que deu voz aos poetas portugueses, e assim de repente, lembro me de Camões, Alexandre O´Neill, Pedro Homem de Mello, David Mourão Ferreira, Ary dos Santos, Manuel Alegre, etc.
Na voz arrepiante da Mariza, fica aqui registado uma versão igualmente poderosa de Barco Negro, com a Poesia do enorme David Marão-Ferreira.
De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.
Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:
São loucas! São loucas!
Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.
No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.
Já tinha pensado nesta música para a rubrica "Assustadoramente belo" lá do tasco, mas não consegui arranjar a verdadeira Xôra Dona Amália a cantar e desisti.
Uma pequena correcção, se me é permitido. Tenho a impressão que a letra começa "De manhã temendo que me achasses feia...". Estou enganado?
O faduncho de Lisboa (aos altos berros, de preferência) não te faz lembrar as manhãs de Domingo, aqui há uns bons anos?!!!!
Abraço.